Criado por Steve Gerber para ser
coadjuvante em uma série de histórias apresentadas na revista Homem-Coisa, Howard era uma espécie de versão adulta do Pato Donald. Até o típico mau humor do amigo do Mickey Mouse estava presente em seus
diálogos e suas breves aparições acabaram por chamar a atenção dos fãs, o que
resultou no lançamento de sua própria revista em janeiro de 1976, com direito a
uma participação especial do Homem-Aranha.
Howard é oriundo
de outra realidade. Sua passagem para a dimensão dos heróis Marvel se deu
literalmente por um acidente de percurso. Recrutado pelo mago Dakimh para
ajudá-lo a derrotar um inimigo, acabou caindo em um abismo interdimensional e
foi parar em Cleveland, onde tenta desesperadamente se tornar um herói e assim
ganhar um emprego na polícia, a partir daí começam as aventuras do personagem.
O escritor e criador de Howard,
Steve
Gerber, tenta a todo momento demonstrar o quanto o personagem é
diferente do meio que o circunda, desde a aparência física ao modo de pensar,
fazendo com que tudo passe a ser estranho aos olhos do Pato e, consequentemente,
ao dos leitores. Ainda se aproveitando deste ponto de vista diferenciado, o
escritor destila uma série de comentários/críticas sobre a realidade social
norte-americana da década de 1970. Assim assuntos como religião e política eram
criticados através de situações esdrúxulas, mais ou menos como os Simpsons
fazem hoje em dia.
Um dos grandes charmes da série original do personagem
(principal fonte de sua fama) eram os vilões, pois Gerber usava e
abusava de sua criatividade na hora de elaborá-los.
Assim o público foi
brindado com verdadeiras pérolas como Pro-Rata,
o mago financeiro (sátira ao empresários de Wall Street) ou o Reverendo John
Moon Yuc (uma sátira ao reverendo Moon e sua Igreja da Unificação). De todos, o
que mais se destacou foi o famigerado Dr.
Bong uma espécie de cópia do Dr.
Destino, porém com o diferencial: utilizar uma máscara em forma de sino que
também era usado como arma.
Da mesma maneira que o Homem-Aranha
tinha Mary Jane e Superman, Lois Lane, Howard tinha Beverly, uma jovem ruiva apresentada
aos leitores já na primeira edição da série mensal. Gerber sempre
tomou um certo cuidado com a relação de ambos os personagens e por vezes até
insinua que algo mais entre os dois do que simples amizade. Beverly inclusive é a razão do ódio de Dr. Bong por Howard, Bong é
apaixonado pela companheira de Howard,
chegando a obrigá-la a se casar com ele para salvar a vida do Pato em uma das
edições da revista.
Gerber criava roteiros rápidos e dinâmicos, geralmente
se prendendo a histórias curtas e auto suficientes, ou seja, não espalhava a
conclusão por diversos números da revista. É claro que fez algumas concessões
em relação a isto, como no caso do já citado casamento de Beverly e Dr. Bong ou na candidatura de Howard à presidência do EUA, arco este
que contou com a participação dos Defensores(na época constituídos por Falcão, Noturno, Dr. Estranho, Valquiria
e Hulk). Mas mesmo assim as
histórias de Howard não tinham um
eixo central, como por exemplo a dos X-Men,
as coisas apenas aconteciam com os personagens de forma bastante semelhante ao
formato da série de TV Seinfeld. Se isto não bastasse a revista ainda contava
como desenhista regular, ninguém menos que Gene Colan.
O roteiro desafiador e a narrativa original de Howard não tardaram a conquistar uma
gama de fãs dotando-o de certa notoriedade. Tendo em vista este cenário, Steve Gerber
entrou na justiça contra a Marvel exigindo os direitos do
personagem, alegando algumas violações legais por parte da editora. O processo
se arrastou através dos anos e Gerber, decepcionado com o
tratamento que vinha recebendo, resolve abandonar a revista na edição de número
29. Bill
Mantlo assume seu posto e tenta dar continuidade à revista, no
entanto as vendas já não eram tão satisfatórias quanto as de outrora e os
editores da Marvel resolvem descontinuar a revista na edição 31.
Ainda assim o personagem possuía uma legião de fãs sedentos
por novas histórias. Percebendo isto, meses mais tarde é lançado Howard the Duck em formato magazine (igual ao das primeiras Paninis), em
preto e branco e de periodicidade bimestral. Nesta revista o roteirista Bill
Mantlo resolveu apostar em uma abordagem mais aventureira para o
personagem deixando a paródia social em segundo plano, o que não parece ter
agradado aos fãs de Howard. A
revista durou apenas nove edições.
O fim da revista bimestral do personagem o colocou na
geladeira por quase dois anos até que a revista Bizarre Adventures #34 trouxe uma curta historia do personagem
escrita por Steven Grant, onde um deprimido Howard prestes a cometer suicido acaba
sendo salvo por um anjo. Após a historia o personagem caía novamente no limbo
editorial da Marvel, e ali teria continuado se não fosse por Hollywood.
Impulsionado pela exposição do filme, a Marvel resolveu dar mais
uma chance ao personagem ressuscitando a sua antiga revista mensal - até a
antiga numeração foi mantida - agora sob a batuta de Steven Grant. O
retorno do público foi muito aquém do esperado e no segundo número o escritor
foi substituído por Christopher Stager
e Val
Mayerik, outro fracasso retumbante. Logo a revista do personagem
foi cancelada em definitivo no número 33.